segunda-feira, 12 de abril de 2010

Personagem da solidão


Ele chora.
Enxuga as lágrimas ralas na manga do casaco bem surrado do frio que já passou pelos longos e amargos solitários 92 anos de vida mineira.
Nada de muitos netos, apenas Fernando Henrique - moço alto, bonito, olhos claros e cabelos fartos. Formado em alguma das engenharias e moço de salário imperial. Neto só mesmo no papel e sobrenome atuante que carrega - talvez a única herança que seu avô, o personagem da solidão, deixara para a eternidade dos descendentes.
Natal com a esposa era ainda farto de presentes pequenos, perus gordos e pinheiro verde do quintal. Nesta fábula dos dias passados as sequências de fatos ainda impressionavam os pequenos parentes.
Foi então que o capital, assim como veio, se foi. E junto dele, a família navegou rumo outros mares estrangeiros para aportar nos vizinhos europeus. De lá o personagem da solidão tem apenas ciência que estão todos bem. Bem de vida!
Para ele, ainda aqui no Brasil de brasileiros, restou a casa com telhados escuros e ralos quando o frio baixa, o quintal agora sem pinheiros, uma aposentadoria por invalidez mesquinha (típica) e o casaco para enxugar as lágrimas.
Quantos idosos hoje vivem na escuridão das suas recordações cheia de cores?

Um comentário:

  1. Esse, infelizmente, é o nosso país. A dignidade em viver em um pedaço de terra também pode ser medida pela maneira que os mais velhos são tratados. Dignidade fail, Brasil.
    Infelizmente. Belas palavras, Má.

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