quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Encanto!

Minha janela vai de encontro ao céu. Eu quase toco os dedos dos pés de São Pedro quando ele se estica logo cedo na espreguiçadeira da varanda de sua casa de madeira. A casa de São Pedro é a minha casa – meu sonho de casa.

Tem lá um monte de patos brancos perambulando pela horta e lago verde cheio de peixes pequenos (bom para fritar com espinha e tudo. Hum...).

Sonho de uma casa que já tenho guardadinha no sul das montanhas mineiras. Entre neblina e galáxias completamente formadas no céu, minha casa, que é nossa, é azul. Tinindo!
Ela hospeda a Zara, uma fila gigante que deu cria a 14 pequenos indefesos – 7 já foram abatidos pelo poder da natureza cruel e suas chuvas no meio do mato. Bem que Zara tentou salvá-los, mas não deu. Nossa putinha é mãe! Ela é pura, mas sai com qualquer um que suporte seu porte. Suporta?

E lá ainda tem os canarinhos que brotam da terra! Canários legitimamente brasileiros, mineiros, cantam até arrastado! São canários como estes que minha irmã já enterrou milhares. Tinha um Zanhaço no meio! Pássaro que morreu com uma batata mal digerida...

Linda casa entre árvores, Ipês coloridos - amarelo radiante que chega a doer a vista, lilás que meu pai torcia para abrir todos os anos (ele é difícil, uma espécie, digo eu, sistemática) –, plantas das mais diversas e com os mais longos anos. Pau Brasil? Claro que tem! Samambaia e trepadeira tem para vender se quiser! Terra molhada e grama cortada...

O cenário encanta vistas.

Me faz entrar na máquina do tempo e pedir para parar naquele momento. Ficar só sentindo o cheirinho do café que minha mãe passava pelo menos umas quatro vezes ao dia. Garrafa cheia. Ela e meu pai tomavam café como água! Mas era tão bão...

E pensar que quando dava uma fominha antes do almoço, nosso petisco era o leite grosso tirado alí, na hora. A caneca já ficava guardada no barracão dos tios e levávamos somente o Toddy com muito açucar! Ixi... falavam que parecíamos bezerrinhos desmamados! Quem sabe...
Parecíamos? Sim: eu, irmã e irmão. Muitas vezes os muitos primos eram agregados queridos para passar dias enfurnados nas brincadeiras de roça.

Quando chovia? Era a morte da minha mãe... Meu pai saia com os filhos para uma volta pelas poças de água que formavam pela estradinha que ligava nossa casa até a granja (lá estavam os cavalos, os porcos, as galinhas e o zelador na casinha ao lado. Quando era o Odair e a Sula Miranda... Que delícia!). Estas pocinhas de água misturadas com a terra fofa formavam uma deliciosa piscina de lama! Ali passávamos horas lambuzando um ao outro!

Para que hora? Relógio fui conhecer na escola. Professora Mafalda, típica de desenhos animados. E não era animada. Gostava de receber presentes e quem mais a presenteasse no final do ano ganhava as melhores notas! Nunca gostei de presenteá-la...
Mas minhas notas sempre foram exemplares dentro da média que eu mesma criei. Nada abaixo de 8 e para que tirar mais que isto? Bobagem...

A sala de aula se transformava em buffet infantil quando algum dos alunos era o aniversariante. As mães se uniam para festas conjuntas e levavam bolos confeitados e todos tinham que presentear. A aula era deixada de lado. Tenho fitas gravadas!

Em frente o casarão antigo do Cesário Coimbra, minha primeira escola, havia um jardim misterioso. Árvore que chamava por bruxas caso déssemos trinta voltas em volta dela. O Coreto que fazíamos nossos shows e dançávamos a quadrilha todo ano! Havia um Chafariz com peixes coloridos espirrando água desordenadamente. Os peixes morriam logo, ou as crianças os matavam. No obelisco erguido em comemoração ao IV centenário do descobrimento do país, corríamos de lado a outro até as mãos se encontrarem.

Muzambinho é palco de belíssimas artes e artistas.

Uma cidade que carrega na sua história mistérios e fascínio. Quem conhece, quer voltar e quem volta quer ficar. Mesmo que por alguns dias, digo.

Nas suas capelas cheias de segunda a segunda a cidade exibe sua fé. Nos feriados santos não existe alma dentro de casa! Todos para as procissões que chegam a assustar os visitantes...

Linda cidade!

Belíssimas pessoas!

Cheiro de Minas é aquele que vem do nada. Um espasmo! A mente para por segundos, o coração palpita, as mãos molham... os olhos marejam...

Meu canto é minha terra. Minha terra é o canto de todos!

Um comentário:

  1. É simplesmente fantástico o jeito que você conduz seu pensamento em forma de palavras. Conheci esse seu cantinho em Minas, igualmente fantástico. Lembrar do passado é sempre bom, mesmo que ele pareça nunca ter existido. Continue escrevendo!
    Ps. gostei da Zara Puta! HUAHAUH!!! E tb do coque fake da sua bisa...

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