terça-feira, 17 de novembro de 2009

Um anel no dedo

Mais tarde que o horário normal. Mais cedo que o querido. Em cima da hora para o atrasado.

Lendo o jornal não consigo me concentrar, pois os pensamentos estão voando pelo cérebro cozido. Cansado. Esmagado pelo turbilhão de afazeres domésticos e luzes solares.

As notícias não estão mais prendendo meus olhares e fico só imaginando como seria assim, como seria assado. Sempre tentando reformular o que alguém ganhou para fazer!

Minha esposa ganha bem. Dá pra tirar uns cruzados no final do mês que sustenta sua beleza e consumismo por anéis. Enlouquecida por anéis. Tamanhos, cores, formatos. Os regionais são os que chamam mais atenção! A minha atenção...

Querendo ou não eu também quase sou um colecionador de anéis, pois ando pelas entranhas alheias procurando algo novo. Sempre na espreita.

Na caixinha de madeira feita pelo avô, ela guarda, em saquinhos de veludo, todos os aros da sua vida. Inclusive a aliança – com medo de perder. Caixa forrada de cetim claro e brilhante, com leve música aos ouvidos quando é despertada. Uma bailarina aparece na pose pronta para sua apresentação do dia! E nesta pose ela fica, fica, fica, fica, fica... Está sempre apta a despertar meus olhos, chamar minha atenção e entreabrir meus lábios. Deve ter uns três andares com pequenas separações intercaladas e cuidadosamente embrulhadas com o rico tecido.

Ai de mim se, em uma destas andanças por países criteriosos, não trouxer uma jóia! A esposa sente tanto que deixa de sentir amor por mim. Já passei por isto antes... já senti como é ficar sem sentimento.

Assim, a primeira obrigação do meu dia longe de casa é procurar pela boutique famosa e trazer um presente.

Certa vez, na cidade de Seramangápio, país desconhecido, onde nem água havia para banhar, fiquei perdido por pensar que enfeites para os dedos seriam ainda mais raros. De um lado a outro da cidade e nada. Nadinha de pitibiriba! Foi então que a senhora que cochilava na janela da pequena casa de esquina abanou a mão esquerda para mim e, de longe, a única coisa que meus olhos avistaram foi o anel de pérolas. Duas dobras de pérolas ricas que reluziam até ferir a vista! Fui de encontro, tentei puxar papo, a senhora nada. Ofereci moeda e mais moeda, a senhora nada. Estava sem escapatórias. Tive que levar o anel para casa.

3 comentários:

  1. Já estava me acostumando com as palavras serelepes de Marília, dando visão feminina e muitas cores de esmalte às suas entrelinhas. Mas quem narra nesse texto é um homem(!!!). Que surpresas nos aguardam no porta-joias de Marília?

    Eli

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  2. Pois é... Pois é... Porra, o que dizer? Fantástica.

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  3. Fe... tô tentando fazer o que vc questionou. Não falar só da minha terra... ui!

    Lizeu!!!!! Que isso... que alegria!!!!

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